De manhã cedo
essa senhora se conforma
bota a mesa, tira o pó,
lava a roupa seca os olhos
Ah! Como essa santa
não se esquece de pedir
pelas mulheres, pelos filhos,
pelo pão
Depois sorri meio sem-graça
e abraça aquele homem,
aquele mundo
que a faz assim feliz
De tardezinha
essa menina se namora,
se enfeita, se decora,
sabe tudo, não faz mal
Ah! Como essa coisa é tão bonita
ser cantora, ser artista
isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de
agonia
DE
ALGUM DIA, QUALQUER DIA ENTENDER DE SER FELIZ
De madrugada
essa mulher faz tanto estrago,
tira a roupa, faz a cama,
vira a mesa, seca o bar
Ah! Como essa louca se esquece
quantos homens enlouquece
nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça
e agradece ao destino aquilo tudo
que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
em quem esbarro a toda hora
num espelho casual
é feita de sombra e tanta luz
de tanta lama e tanta cruz
que acha tudo natural
(Essa mulher. Canção de Joyce e Ana Terra.
Lindamente gravada por Elis Regina)
MULHERES & ADMINISTRAÇÃO:
BABADOS
E RENDAS CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR
Antonio
da Costa Neto (*)
“As
mulheres são artesãs
tecem
sonhos com fios de lágrimas
e
vidas em suas barrigas,
que
ficam cheias de alegrias e esperanças infanfis.
Mulheres
são feiticeiras, inventam
magias
e encantamentos, acreditam
em
príncipes e em finais felizes.
Elas
trazem em si toda a sabedoria;
repartem
o pão, o carinho e o próprio tempo.
Mulheres
são seres especiais, são anjos próximos de Deus.
São
mães e a mais perfeita tradução dos
mistérios
e da eternidade da alma.”
(Bob
Hirsch)
Resumo:
O texto trata
do papel e da grande importância das mulheres e dos valores femininos na nova
administração. Reflete sobre os desafios inerentes à superação das inúmeras
crises da produção, da produtividade e da economia. Propõe soluções para uma
ação administrativa mais feminina, voltada para a melhoria da qualidade de
vida, em termos sustentáveis, abertos, belos; solidários e flexíveis conforme
as exigências da economia globalizada do terceiro milênio.
_________________________________
Todo um
conjunto das novas exigências passa a se fazer presente com o advento do
terceiro milênio. Assim, a mudança dos paradigmas que norteiam tanto as
ciências, como as práticas sociais e os padrões de vida em sociedade requerem
posições diferenciadas profundamente; algumas vezes, até revolucionárias. A
imensa série de crises porque passa o planeta terra, neste marcante início de
século e de milênio já é, por si, um forte sintoma desta necessidade de transformações
em todos os âmbitos e segmentos. O que envolve o viver; o produzir; o conviver;
o festejar; o desfrutar e até o morrer. Tudo anda inseparavelmente ligado,
suplicando por novas fontes do fazer e do gerenciar; onde a mulher passa a ser
um personagem da mais absoluta importância e a função por ela exercida, muito
mais que indispensável.
Não só a
função da mulher, mas também o seu valor e o efetivo reconhecimento; enquanto
detentora do poder de equalizar as transformações tão necessárias para que o
mundo seja belo, agradável, melhor, as dimensões sustentáveis e a vida
prazerosa em todos os sentidos. O que, em síntese é o objetivo de estarmos
vivos e em perene desafio.
Até aqui, o
paradigma de predomínio do branco, do macho e do capital tem dado às ciências e
suas práticas, um caráter absolutamente sexista e com uma tendência
masculinizada; capitalista, a serviço exclusivo dos interesses do capital. É o
fruto do superado modelo cartesiano de pensar; de ver; de crer, de fazer as
coisas, enfim, de administrá-las, concretizando assim as suas grandes metas.
Daí, o
resultado de um mundo violento; da degradação da natureza; o já preocupante fim
da água, da fauna, da flora, enfim, dos recursos naturais e de uma qualidade de
vida em termos no mínimo aceitáveis. A sociedade moderna, apesar de tudo,
continua sendo demasiado machista. A ideologia do “falo” ainda constitui um dos atrasos mais gritantes que assola as
várias dimensões da vida. Se a mulher é desvalorizada, colocada no segundo
plano; como um cidadão de menor grandeza, é evidente que os valores éticos,
estéticos, humanos e afetivos que são mais vinculados à natureza feminina,
ficam, da mesma forma; secundarizados, em relação à força, à produtividade, à
técnica fria; a produção e o lucro.
Estes são, na verdade, padrões masculinos;
auto-afirmativos; voltados para resultados mensuráveis e objetivos; que
desencadeiam as realizações inerentes aos interesses de um capitalismo
perverso; profundamente atrasado e centralizador. Congregando, a um só tempo,
ganhos enormes, como também, desgastes e conflitos insustentáveis. Tendo por conseqüências, a
fome, a miséria, a opressão, a violência e toda uma realidade que tem feito
decair, em níveis assustadores, não só a qualidade de vida humana em sociedade,
como também as suas perspectivas futuras.
Fritjof Capra
(1 980), faz uma reflexão muito profunda quando relata que é evidente que o
comportamento agressivo, competitivo, se fosse absolutamente o único, tornaria
a vida impossível. Mesmo os indivíduos mais ambiciosos, mais orientados para a
realização de determinadas metas, necessitam de apoio compreensivo, de contato
humano; de momentos de espontaneidade e descontração; amor, carinho e afeto.
Em nossa
cultura, espera-se, e, com freqüência, força-se a mulher a satisfazer essas
necessidades. Assim, secretárias, recepcionistas, aeromoças, enfermeiras,
donas-de-casa; executam as tarefas que tornam a vida mais confortável e criam a
atmosfera para que os competidores possam triunfar. Elas alegram seus patrões e
fazem cafezinhos para eles; ajudam a apaziguar os conflitos nos escritórios;
são as primeiras a receber os visitantes e a entretê-los com conversas amenas.
Nos consultórios médicos e hospitais, são as mulheres que estabelecem os
primeiros contatos com os pacientes que iniciam o processo de cura.
Nos
departamentos de física, as mulheres fazem chá e servem bolinhos, em torno dos
quais os homens discutem suas teorias. Todos estes serviços envolvem as
atividades integrativas, humanísticas e processuais, e, como têm um status inferior em nosso sistema de
valores, ao das atividades auto-afirmativas, lucrativas, técnicas e de
resultados; quem as desempenha recebe salários e condições de trabalho menores.
Na verdade, muitas destas mulheres nem sequer são pagas, como as donas-de-casa
e as mães.
Creio que há
muito já tenha chegado a hora da mulher assumir o seu papel e o seu poder no
gerenciamento das instituições; das empresas, do governo, do terceiro setor.
Mas fazê-lo por uma abordagem própria. Agregando doçura; beleza cooperação, a
criatividade, a estética, a solidariedade, a poesia. Enfim, trabalhando com a emoção
e o sentimento femininos - e não se
tornando os verdadeiros “machos de saias”-
como a vasta maioria das mulheres que assume o poder sobre os demais, conforme
lembra-nos Muraro (1 991), para que
assim, as tecnologias se abrandam, se tornem mais doces, os valores humanos aflorem acima dos do
capital e do estigma do “ter” sobre o
“ ser” a todo o custo.
Ou seja, o
papel da mulher, sendo definitivo para que possamos usufruir novas conjunturas
e não, apenas de estruturas de superfície, que se diferenciam apenas
pragmaticamente, mantendo a essência das
coisas e dos fatos; dentro dos estereótipos de uma ideologia há muito
ultrapassada e perpetuadora de um caos insustentável em todas as dimensões e
sistemas do chamado mundo contemporâneo.
Nos campos da
administração, da política, da economia, das ciências da tecnologia e da
comunicação, geralmente estrelada pelos machos “intelectualmente brilhantes” e também na área da ação social, da
educação, das artes e muitas outras, temos a presença marcante e histórica de
várias mulheres corajosas, ousadas e guerreiras que têm conseguido apresentar
diferenciais respeitáveis como os de Hazel
Handerson com suas avassaladoras idéias na política e na economia; Marilyn Ferguson, na constituição de
verdadeiras redes humanas mundiais para a reorganização do planeta, e, ainda: Clotilde Tavares; Ir. Dulce; Evita Perón;
Maria Bonita; Chiquinha Gonzaga; Anna Nery; Mãe Menininha do Gantois; Maria da
Conceição Tavares; Frida Kalo; Nélida Pinõn; Ana Miranda; Hilda Hirst; Anaid
Beiris; Lota Macedo Soares; Cecília Meireles; Salomé dos Doces; Leila Diniz;
Elizabeth Bishop; Florbela Spanca; Patrícia Galvão; Virgínia Vitorino; Olga
Benário; Margarida Maria Alves; Nízia Floresta; Violeta Parra; Nilze da
Silveira; Heloisa Helena; Rose Marie Muraro; Marilena Chauí; Indira Gandhi;
Benazir Butho; Golda Mehir; Madre Teresa de Calcutá; Dulcina de Moraes; Simone
de Bonvoir; Elis Regina; Marina Silva; Renée Weber; Oprah Winfrey; Anita
Garibaldi e muitas outras.
Elas têm contribuído enormemente para este
novo enfoque que traz o potencial da verdadeira e nova essência, além das meras
aparências das formas meramente organizadas. Mas, ao contrário, advogam a real
implementação de novos valores que integrem a solidariedade humana, a empatia,
o respeito à alteridade, a “feminilização”
consciente e eficiente das ciências e suas práticas .E não mais aquelas
voltadas para a manutenção dos interesses da parte da humanidade que detém o
poder e a riqueza. Mas construindo uma ciência viva e vívida que sirva a todos.
Que agregue melhorias concretas num sentido mais pleno e profundo possível.
Em sua
clássica obra A conspiração aquariana:
transformações pessoais e institucionais nos anos 80, a já citada autora,
pesquisadora e jornalista Marilyn Ferguson nos relata com singular sabedoria
que as mulheres sustentam a metade do céu.
Elas representam a maior força única para a
renovação política em uma civilização completamente desequilibrada como a
nossa. Assim, como os indivíduos são enriquecidos pelo desenvolvimento de ambos
os lados do eu: o masculino e o feminino; a sociedade como um todo está se
beneficiando amplamente com a mudança do significativo poder entre ambos os
gêneros.
Ferguson
continua: o poder da mulher é o barril de pólvora de nossos dias. À medida que ela
aumenta sua influência na administração, na economia; no governo e em outras
áreas de grande importância, sua perspectiva ultrapassará os limites do velho
paradigma. As mulheres são mais flexíveis e mais voláteis que os homens, têm
consentimento cultural para serem mais intuitivas, sensíveis e sentimentais,
mais voltadas para o sentido da proteção e da conservação em seu aspecto mais
fluido.
As mulheres
mudam as regras do processo de decisão ao administrarem, são muito mais capazes
de “esticar as negociações”. Ao invés de exigirem “a fatia do bolo” que os
homens produziram com seus instrumentos negligentes e voltados para ganhar a
qualquer custo, elas apresentam “uma nova
receita”, mais integrativa, mutável e com lacunas a serem preenchidas pelos
consumidores deste “novo bolo”. Igualmente, elas facilitam a pluralidade de
idéias e a construção coletiva de regras, normas e valores. Também como mães,
elas procuram ‘nichos’ de proteção para “seus filhotes”, e, assim, vão
conduzindo o mundo para uma perene sustentabilidade, gerando processos de uma
vida melhor e mais intensa em todos os sentidos em todos os momentos.
As
mulheres possuem um poder mais integrador e tendem a acabar com o fenômeno da
estreita definição de papéis e funções entre os gêneros humanos. Hoje em dia,
até mesmo, nas lides domésticas, muito por força da coerção feminina, boa parte
dos homens enfrenta o tanque, o fogão, cuida das crianças e da casa, da
decoração, da limpeza, gerando mais harmonia, prazer e vigor na vida em
família. Assim, numa similaridade antropológica dos fenômenos, o mesmo se dá
nas outras instâncias onde as mulheres podem exercer alguma forma de poder nas
decisões. É a nova dimensão do ‘ecofeminismo’;
um fenômeno mundial que deixa claro o grande salto evolutivo das mulheres -
diferenciado da evolução dos homens - que especialmente, a partir dos meados da
década de sessenta vem ocorrendo em todo o mundo (Capra, 2 003).
Já há muito, somos sabedores de grupos de
mulheres; associações femininas profissionais, de exigência de direitos de
igualdade entre os gêneros, de exercício autônomo da vida sexual; espiritual e
artística; independência, sagacidade; autonomia; dentre outras. O que passa
pela exigência de novas e profundas éticas de organização, canalizando uma
excepcional qualidade de gerenciamento. Com base na técnica associada à
intuição, à malícia, à percepção aguçada de fatos e fenômenos que passariam
despercebidos para a grande maioria dos homens.
Tavares (l
986) defende a idéia da significativa capacidade da mulher para simplificar
estruturas burocráticas, rotinas, fluxos; planejamento, pois estão menos
preocupadas com o poder pelo poder, pura e simplesmente. Elas são mais
autênticas, mais verdadeiras, e, portanto, mais sensíveis, eficientes e
criativas neste sentido.
Anseiam muito
mais pela funcionalidade legítima, pela dinamicidade das respostas e pela
efetividade da ação gerenciada, seja, de produtos ou de serviços. Algumas
mulheres precisam se libertar dos estereótipos do modelo masculino de
liderança, que é apenas manipulador do poder. Criando muletas eternas que ainda
prejudicam boa parte daquelas que não se autorizam a ousar, a serem
independentes, a implementarem os próprios valores. Este problema ainda existe,
é claro, mas estamos muito mais perto de sua solução, diferente do caso da
grande maioria dos homens que ainda caminha no sentido inverso; buscando
valores antagônicos, fruto da cegueira conceitual e da crise de percepção das
formas masculinizadas de gerir processos de gestão nos vários segmentos em que
tais aspectos possam ser compreendidos e implementados.
A
ascensão da mulher para assumir a administração é considerada como uma inefável
fonte de esperança para o mundo que caminha para o desastre, mas ainda não é
demasiadamente tarde para descobrirmos a força do amor, da sensibilidade, da
cooperação e da beleza, para que o mundo seja melhor e mais feliz, no que as
mulheres têm uma missão da mais alta importância. Mais coração do que razão; mais babados e rendas do que fardas e
espadas. Mais sorrisos abertos e formas de carinho do que ordens impostas,
dedos em riste, determinações rígidas, concentração de poder.
O que precisamos é de nos deliciar, comungando
com a natureza e não de lutarmos cegamente contra ela, destruindo-a, em função
da ganância e da desenfreada competição; do enriquecimento material indefinido;
frutos de um modelo absolutamente ultrapassado de administração; uma espécie de
“Clube do Bolinha”; onde a mulher não
entra e não tem o poder de nada definir ou alterar. Ficando igualmente do lado
de fora, a fina inteligência; a sensibilidade; a sagacidade crítica; a sábia
intuição feminina, a beleza, a poesia, a arte, agregadoras de amor, comunhão e
bondade, eficiência, sutileza; um terceiro caminho de humanização da técnica e
do controle organizacional, com vistas à sustentabilidade da administração, do
planejamento, dos processos de gestão.
Para que a vida seja preservada com dignidade, alegria e bem-estar; esta
sim, a grande meta da boa organicidade, de uma administração que possa ser, de
fato, reconhecida por mérito; respeitada, aplaudida e merecedora desta
denominação.
Administrar
bem é ser um excepcional artista. É enfrentar o palco sem medo do foco, da
ousadia, da criação; da sagacidade exigente da platéia; dos novos valores e da
possibilidade de segmentos para uma outra história. Onde a organização, segundo
Costa Neto(2 004), o planejamento, o poder, a empresa, a economia; a política;
enfim, a administração tenham uma dignidade diferente e prestem um outro
serviço: pela crença, pelos valores, pela vida, e, por fim, para que a
humanidade possa ter paz, ar respirável e alegria de viver em seu sentido
pleno, com um equilíbrio saudável em todas as dimensões.
George
Stratton (l 976) descreveu a superioridade do cérebro feminino em relação ao
masculino na percepção do todo; a esperança, a criatividade que salvariam o
mundo quando as mulheres tomassem o lugar que realmente lhes cabe, contribuindo
na condução do destino da vida na terra. Segundo o autor, o gênero masculino
necessita do âmago feminino para administrar com eficiência e eficácia. As
mulheres são mais capazes de exercer a liderança com a necessária empatia,
integração e reconciliação, uma capacidade de espera, uma excelente proposta
para o futuro, frente às tendências que ora desencadeiam como frutos da chamada
nova ordem mundial.
De uma maneira
mais ampla, as mulheres são mais propensas a um maior desenvolvimento do
hemisfério direito do cérebro, que em harmonia com o hemisfério esquerdo, de
fundo lógico, tornam-se mais sensíveis, abertas, críticas e perceptivas.
Conduzindo a intuição de uma forma mais inteligente e produtiva. O problema
reside na concepção “sexista” da maioria dos homens, e também de muitas
mulheres que tendem a menosprezar as decisões e as opiniões femininas; por
razões muito mais de vaidade, cultura machista e uma ideologia recessiva; fruto
de um histórico patriarcal que comanda nossos valores e formas de enxergar a
vida e seus dilemas. É apenas uma questão de percepções rasas, e não, de
superioridades ou inferioridades de seres ou gêneros (Oliveira, 2 002).
De Gregori (2
000) segue a mesma linha de raciocínio divulgando a concepção cultural da
família e da escola que querem, a qualquer custo, “construir mulheres”
dependentes e inseguras, para que sirvam aos interesses de seus “pretensos
donos e senhores”- numa brutal coisificação e mercantilização da mulher - e sem questionar, ou fazer valer suas
vontades e seus direitos. Submetendo-se, sem que, pelo menos o saibam à
condição de “mulher-objeto”, uma ótica muito criticada pelos movimentos
feministas e pelas organizações mais sensíveis das décadas de sessenta; setenta
e até meados dos anos oitenta; inclusive, como a queima pública de “soutiens”, em manifestações de protestos revolucionários das mulheres, muito
difundidos pela mídia internacional.
Porque toda mudança política que diz respeito
à mulher ao seu poder; ou ao seu prazer envolve tantas polêmicas? Como, por
exemplo, o uso dos anticonceptivos e da camisinha feminina; a causa do aborto?
A liberdade de expressão, do direito de votar e ser votada; o tabu da
virgindade; da igualdade de direitos e condições de trabalho; salários e muitas
outras?
A educação da mulher nas nossas sociedades é
feita a partir do estereótipo da submissão, da ingenuidade e da subserviência,
com o que fica muito mais fácil para a maioria ambiciosa dos homens galgar
espaços; conquistar e gozar, sozinhos, dos méritos advindos destas mesmas
cobiças. Embora estas possam ser conseguidas das formas mais injustas, escusas
e até simbólica ou concretamente criminosas (Costa Neto, 2 003).
Nas escolas de
ensino infantil e fundamental, onde se articula o alicerce da formação
intelectual e personalísticas, por estratégia, quase sempre, só existem
mulheres trabalhando. Para que, por formas instintivas, embora inconscientes, “os machinhos” se encantem; gostem mais
da escola; tenham mais prazer em estudar e sejam, é claro, mais bem avaliados e
com méritos melhor reconhecidos que as meninas; pela “intencional ingenuidade freudiana
das professoras”. E, por uma
manobra draconiana de já colocar as mulheres num segundo plano: como “burrinhas”, preguiçosas, indolentes. É,
na verdade, um plano frio e abusivo, contra a qual todos nós, homens e
mulheres; precisamos lutar cegamente, se quisermos, de fato, conquistarmos
melhores dias para todos.
As técnicas
masculinizadas e o modelo cartesiano de organização estão absolutamente
superados e falidos. Necessitam; portanto; de propostas arraigadas e novas que
agreguem comunhão, amor, bondade e solidariedade humana principalmente em
relação aos que mais precisam, aos que sofrem, para o quê, a mulher possui
muito maior competência e sensibilidade. Favorecendo, de fato, à grande massa
dos oprimidos, marginalizados e esquecidos que passam fome e morrem nas
esquinas, debaixo dos viadutos e nas filas dos hospitais públicos horrendamente
desumanos. Administrar com a verdadeira sensibilidade, visão crítica e
compromisso político, o que, culturalmente é mais fácil para a mulher, talvez
seja a grande sabedoria que transcenderá aos sofrimentos do mundo, buscando a
evolutiva superação do caos (Henderson, l 998).
Estamos todos
construindo em conjunto uma “nova
linguagem” de qualidade de vida, o que, por certo, envolve novos valores,
crenças e ações, para além dos reduzidos papéis masculinos de verdadeiras
polícias do pensamento; de redutores da liberdade, da criatividade, da
autonomia. Induzindo, portanto, ao medo de um novo poder de criar e
sistematizar soluções viáveis e que dêem respostas no mínimo satisfatórias. No
fim, tudo se reduz ao tremendo temor e insegurança que o homem, na verdade,
tem, de que a mulher se utilize do seu infinito poder de persuadir, de liderar,
com sagacidade e criatividade; alcançando, de fato, o que lhe é
culturalmente negado durante toda
a história das civilizações: o justo direito de ser ela mesma, com direitos,
liberdades e prazeres iguais.
É certo que as
velhas estruturas geram um tremendo progresso material e tecnológico, como
também, criam problemas até muito maiores. Pois tudo é realizado com uma visão
bastante fragmentária; em que não se harmonizam causas e efeitos. A abordagem masculina de gestão para o
progresso material e o lucro ilimitado a qualquer custo, produz muito e destrói
mais ainda, com suas ações maquiavélicas e egoístas. Longe de concepções e equipes
com grupos igualitários e pacíficos, o que requer a profunda liderança
feminina, para que a história da evolução das organizações mude este relato de
tendências incoerentes e, diríamos, até mentiroso em alto grau.
Faz-se
necessário, utilizar a crescente virtuosidade da tecnologia, colocando-a mais a
serviço da vida e da felicidade humana; evitando os tão comuns cenários de
aniquilação em volta de todo o mundo civilizado, as ameaças lentas e insidiosas
de um capitalismo perverso e profundamente opressor, que apenas será combatido
pela tenaz inteligência feminina, caso ela seja muito bem aproveitada, de forma
assertiva e oportuna.
É preciso, em
nossas administrações contemporâneas, colocar um ponto final nos conflitos
civis e étnicos, geradores de todos os tipos de violência nas ruas, nos campos,
nos estaleiros de nossas indústrias, nos ambientes de trabalho e produção, nas
cidades e nas famílias. Necessário se faz que se integrem igualitariamente os
gêneros humanos numa ação prática de equilíbrio, sem os mecanismos enganadores.
Mas gerando participação, autonomia e poder de decisões em todos os níveis,
para mulheres e homens. Não, em contrapartida de competição, mas integrando
valores, vontades, ideologias e competências reais e os sonhos de todos.
O paradigma
violento da competição-conflito, dominação-submissão; perdas e ganhos, precisa
ser rapidamente substituído por concepções e princípios que envolvam novas
abordagens e avanços revolucionários que não sairão jamais dos vazios baús das
idéias masculinas, mas buscando os sinais de transformação pelas delicadas mãos
das mulheres. Conjugando razão e coração com lides mais amorosas, não
abandonando, é claro, a técnica; a produtividade; a provisão de lucros
eqüitativos e que garantam a sobrevivência calma, lúcida e confortável para
todos. Afinal, não estamos falando de filantropias gratuitas, mas de
administrações eficientes num mundo gerido pelo poder inquestionável do
capital.
É chegado
tempo do fim da vitória do capitalismo opressor, dos mercados competitivos e
das crescentes crises advindas do eterno “caso
de amor” com a moderna tecnologia e seus perversos impactos sobre a vida, a
paz, a harmonia; o meio-ambiente.
As mulheres, por certo, não mais se utilizarão
desta “poção nociva” da evolução
tecnológica, da exploração comercial dos povos do planeta e dos seus recursos
naturais renováveis ou não. Mas, sem dúvida, farão uma administração calcada em
recursos e potenciais humanos regulamentadores de nossas sociedades, de nós
mesmos, e, de nossas vidas presentes e futuras.
Resguardando, inclusive as novas gerações de toda esta sorte de
sofrimentos e agruras advindas deste tipo absurdo de irresponsabilidade social;
uma espécie de crime coletivo, invisível, que vem sendo lentamente cometido
contra a humanidade inteira, há milênios.
A busca de
formas mais cooperativas, flexíveis, amenas, doces, belas e mais justas de desenvolvimento virá da
opção feminina ao decidir com critérios inovadores próprios e com benéficos a toda a sociedade civil
emergente. Promovendo a organização de
um tempo nosso, único e autêntico, calcada na diversidade de todas as espécies
vivas, como verdadeiras fontes de riquezas em favor da vida e seus encantos, é
do que nos fala Costa Neto (l 986).
Uma administração para a plena sustentabilidade
dos meios integrais de vida, no exato sentido e força da expressão, deverá
criar novas sociedades, outras formas de empreendimentos, de instituições e
parcerias onde todos ganhem, colocando fim nas organizações com o foco único no
dinheiro e no lucro, na maioria das vezes, abusivo, como um “cassino global”, mas com novos
indicadores da economia e do progresso verdadeiro, multidimensional e para
todos.Com uma olhada por entre os véus dos levantamentos estatísticos, das
planilhas e dos diagnósticos feitos em computadores sofisticados e prontamente
capazes de legitimar a fome e a miséria, como também, socializá-las com o maior
cinismo.
Henderson (l
996) nos lembra que o Produto Nacional
Bruto; o Produto Interno Bruto e outras brutalidades deverão ser rapidamente
substituídos por novos indicadores do desenvolvimento humano e da importância
da difusão das democracias em todo o mundo. Dando ênfase à satisfação das
necessidades urgentes do aperfeiçoamento dos sistemas de tomadas de decisão;
que passam a ser democráticos, coletivos e com grandes inovações sociais e, ao
mesmo tempo, tecnológicas. Construindo futuros com arquiteturas mais adequadas
para que o Século XXI seja realmente mais humano, mais profícuo de felicidades
e com muitos motivos para que a humanidade possa comemorar.
Cabe às
mulheres a criação de sistemas administrativos com novas concepções, hábitos,
pensamentos e paradigmas; como ferramentas mentais mais harmônicas, originais,
criativas, abertas, integradas e flexíveis, utilizando concepções antagônicas
aos modelos que vêm sendo praticados até os nossos dias, promovendo
transformações muito profundas, necessárias e inadiáveis.
Só assim
poderemos ver surgir os maravilhosos paradoxos da existência humana e os
mistérios profundamente belos como processo e resultado de uma grande, e, quase
divina criação em todo o universo conhecido e dentro de nós mesmos, para muito
além de planos, tabelas, registros contábeis, lucros e relatórios de caixa de
finais de balanços.
A organicidade
carece de vida nova, de crenças, de valores humanos que sintetizem a profunda
felicidade do viver plenamente todos os momentos, cumprindo assim a função que
justifica a vida do ser humano no mundo.O grande drama da organização requer
uma nova engenhosidade mental, responsabilidade, sabedoria, sistemas de crenças
que até o momento se mostraram disfuncionais e que requerem uma outra atmosfera
de emoção e ternura como valores fundamentais para que as organizações
sobrevivam e colaborem com o plano maior da dignidade em todos os sentidos.
Finalmente,
administração com bases femininas terá seu foco central nas políticas públicas
e individuais que possibilitem o planejamento e a inovação em produtos e
serviços com vistas ao respeito, aos desejos, ritmos, estilos, personalidades
das pessoas que receberão as benesses desta ação administrativa específica.
Questionando sempre o arcabouço cada vez mais estreito da economia convencional
e destruidora de um mundo minimamente saudável, abandonando o falso
universalismo e a visão simplista da natureza humana. Construindo um futuro multidiversificado e
com matizes de um perfeito arco-íris, num tempo em que já é quase tarde demais
para a compreensão destes acontecimentos, fatores e necessidades mais que urgentes.
Pelas mulheres
serão buscadas, certamente, ondas luminosas para remodelar a produção e o
potencial para crescer e aprender sempre com mais otimismo em relação à
natureza humana e sua inteira complexidade. Criando ambientes desafiadores e
estilos de vida inteiramente a favor da felicidade das espécies; sem quaisquer
distinções étnicas, raciais, geográficas, sexuais, culturais ou políticas.
Proporcionando, por assim dizer, uma “grande
angular”, criando hoje as realidades de amanhã, sendo previstas e esperadas
como sonhos, esperanças e alegrias; concretizando utopias e capacidades para a
implementação das mudanças tão necessárias. Dando à organicidade um tom
profundo de ecologia, como ciência profunda, rica e inquestionável. E, por
falar em ecologia, o que é, em síntese,
harmonia e felicidade; lembro-me de uma secular sabedoria chinesa,
segundo a qual; “todas as mulheres são
árvores, e, juntas, que linda floresta elas formam”.
___________________
(*) Administrador, Mestre em Políticas Educacionais. Consultor em Programas de Gerenciamento; Educação; Pesquisas e Mudanças de Paradigmas. É autor dos livros: Paradigmas em educação no novo milênio; Escolas & Hospícios: ensaio sobre a educação e a construção da loucura; Poemas para os anjos da terra e de vários artigos publicados em jornais e revistas especializadas. Professor de OS&M e Programas de Gestão da Faculdade Paulo Martins em Brasília – DF
E-mail: antoniocneto@terra.com.br
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